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tripebasicoQuem precisa de apologética? Afinal, é mesmo necessária a tal “defesa da fé”? Não seria mais proveitoso investir tempo e esforços nos métodos de evangelismo “tradicionais”? A apologética é bíblica?
Se você gosta e entende a necessidade da apologética já deve ter ouvido questionamentos assim ou semelhantes. Se você é um cristão avesso a aplicação e necessidade da apologética já deve ter feito tais questionamentos (ou, ao invés de questionamentos, deve ter afirmado que a apologética é desnecessária). Talvez você não esteja nem lá, nem cá. Este texto (o mais longo da série – peço sua paciência) finaliza esta simples trilogia e não tem a menor presunção de ser a palavra final sobre o assunto – um vasto assunto – trata-se de uma tentativa de acalmar os ânimos daqueles que não aceitam a disciplina apologética bem como orientar os extremistas que fizeram – e fazem – da apologética algo dispensável.
Não é rara a idéia que a apologética é uma arma de destruição, pois este pensamento permeia a mente de muitos cristãos. Posso afirmar que é um pensamento raso, produto daqueles que não compreenderam o real uso da apologética. Uma simples busca na web mostra o volume de sites, blogs, fóruns, listas de discussão e vídeos recheados de morte, ira e ódio religioso, posições muito aquém da recomendação bíblica de 1Pedro 3.15. Lembre-se, discordância não significa desrespeito.
A maioria daqueles que se dedicam à apologética, deram início naquilo que chamo de heresiologia [1]. É corriqueiro que estes estudiosos, após sua conversão ao cristianismo, se tornem “irados” com suas antigas frustrações religiosas, e acabam se tornando tão “anti-aquilo que eu acreditava” que passam a destilar um veneno religioso muito perigoso. Isso é morte, e nem de longe se assemelha à nobre tarefa apologética.
Seria a apologética relevante?
Sim, sem a menor dúvida. Por ser relevante, não gera morte, e sim vida. Veja como Gregory Koukl mostra o conceito geral que existe a respeito da apologética por aí (conceito tal que queremos derrubar neste texto):
A apologética desfruta de uma reputação questionável entre os não-simpatizantes. Por definição, os apologistas ‘defendem’ a fé. Eles combatem as falsas idéias, destroem especulações levantadas contra o conhecimento de Deus. Tais palavras soam como palavras de combate para muitas pessoas: façam um círculo com as carroças; levantem a ponte levadiça; preparem as baionetas; carreguem as armas; preparar, apontar, fogo! Não é surpresa, portanto, que os cristãos e incrédulos igualmente associem apologética a conflito”. [2]
Tomo a liberdade ainda, de citar Alan Richardson, que demonstra que a apologética é sim relevante:
A apologética trata das relações da fé cristã com a esfera mais vasta do conhecimento ‘secular’ do homem – a filosofia, a ciência, a história, a sociologia e as outras mais – visando demonstrar que a fé não discrepa da verdade descoberta por essas pesquisas. Tarefa como esta deve, necessariamente, ser empreendida em cada época. É mesmo um empreendimento de considerável urgência num período em que os conhecimentos científicos e as transformações sociais se processam tão rapidamente[3]
Vimos nos estudos anteriores o passo inicial do “crer”, e partimos então para a importância da prática do ensino bíblico em nossas igrejas. No que diz respeito à necessidade e importância da apologética, destaco sua relevância no seguinte:
a) A saúde da igreja; b) A defesa própria; e c) Evangelismo
a) A saúde da igreja
O rebanho, a igreja, a comunhão dos crentes, precisa ser protegida das más influências externas e até mesmo das internas. Precisa de proteção, pois dia-a-dia se levantam falsos mestres e gurus trazendo um novo ensino que se opõem à pureza do Evangelho. Os motivos são diversos, mas é possível destacar alguns:
1. Movimentos sectários: existem centenas ou mesmo milhares de grupos que se opõem à fé cristã. Muitos destes grupos investem tempo e recursos materiais para que possam treinar seus seguidores no trabalho de proselitismo religioso. Muitas são as seitas que são especialistas em fisgar novos convertidos. O processo de discipulado dentro das igrejas precisa receber um plus apologético.
2. Ateísmo e movimentos semelhantes: a massa de pessoas que não crêem cresce a cada dia. E além do fator crescimento, os “sem crença” também se tornaram defensores ferrenhos de seus ideais. É difícil ficar parado vendo tudo isso acontecer e ainda apregoar, como alguns setores da igreja brasileira apregoam, que estamos passando ou mesmo chegando a um super avivamento espiritual. Discordo. O mundo está em franca secularização. A Europa está secularizada, os Estados Unidos estão em secularização e infelizmente as coisas estão em avanço nos arraias tupiniquins. Qual a função da apologética diante deste quadro? É prover nesta ambiente sociocultural tão hostil um cristianismo que não significa suicídio intelectual. Ao conhecer o Evangelho, não abdicamos do intelecto.
Assim pergunto: que avivamento é esse tão apregoado aos quatro cantos? Milhões de CDs e DVDs vendidos? Coleções de crachás dos seminários e eventos que injetam o lixo nas mentes incautas? Evangelho é mudança, é poder para aquele que crê! O cristianismo não pode ser lançado à periferia da existência intelectual, e se trabalharmos este lado em parceria com a ação de convencimento do Espírito Santo alcançaremos frutos de arrependimento e genuína conversão e isso corresponde a avivamento.
3. Heresias internas: assim como foi com a igreja primitiva que enfrentou problemas das mais variadas formas, como por exemplo, Himineu e Alexandre (1Tm 1.19-20; 2Tm 4.14-15) – e o apóstolo Paulo orientou Timóteo a guardar sua fé em relação ao ensino destes – a igreja evangélica está recheada de falsos ensinos. Uma invasão de falsos bispos, apóstolos (e apóstolas!), mestres, gurus e afins se auto-proclamam uma classe super-ungida e levam multidões ao erro. Os programas tele-evangelísticos (que Evangelho é esse pregado na televisão?) estão infectados com a perniciosa Teologia da Prosperidade e esta falsa teologia está nos púlpitos acompanhada de outras aberrações (amuletos, elementos místicos, ofertas “compra-benção”, determinismo, etc.) lançando Jesus Cristo ao banco de reservas.
Por tais motivos, que sequer fazem cócegas na totalidade dos problemas existentes, fica muito claro que a apologética tem muita utilidade (e necessidade). Vamos adiante.
b) Defesa própria
Aquele que acha que não é necessário saber dar respostas se engana. Como disse Jan Karel Van Baalen, “A resposta do escolar: ‘eu sei, mas não sei explicar’, engana somente o escolar. Se não soubermos responder o argumento do sectário, é porque não dominamos os fatos[4]. É mais que necessário saber os fundamentos de nossa fé, saber verdadeiramente sobre o que cremos, deixar o leite de lado e partir para alimento sólido. O maior beneficiado por este esforço é o próprio cristão.
Vimos no segundo estudo sobre este tripé (ensino) que as Escolas Bíblicas estão “fora de moda”. Pergunto como poderemos formar uma geração de cristãos comprometidos com as verdades bíblicas se estes não são ensinados sobre a verdade? Os jovens andam cada vez mais desconfiados (mesmo dentro da igreja) se realmente a Bíblia é verdadeira; uma juventude alienada, viciada na mediocridade da moda gospel e contaminada pelo relativismo. É complicado. Se não houver um despertar para aquilo que realmente importa, as coisas ficarão muito feias num futuro breve. E mais uma vez pergunto: que avivamento é esse que não produz interesse e amor pelo Deus da palavra e pela palavra de Deus? Estar preparado corresponde a atender o preceito bíblico:
Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.” Tito 1.9.
E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” 2Pedro 2.1-2.
c) Evangelismo
É possível conciliar a apologética com o evangelismo? Não tenho dúvidas. Como já vimos, a verdadeira forma de fazer apologética não está naquele conceito distorcido de fazer desta ferramenta uma arma de guerra. A nobre tarefa evangelística requer preparo. Veja este fato interessante descrito por um renomado apologista com mais de 35 anos de serviço. Norman Geisler, logo após sua conversão a Cristo, passou a testemunhar sobre o Senhor junto às pessoas, mas após ser confrontado por um homem embriagado – que afirmou ser formando por um renomado instituto bíblico norte-americano – que tentou desencorajá-lo da pregação evangelística, e após sofrer questionamentos oriundos das testemunhas de Jeová e de mórmons, concluiu que era necessário estar mais bem preparado para a pregação: “Estou convencido de que muitos cristãos deixam de testemunhar porque não querem gastar algum tempo a fim de obter respostas para todas essas pessoas[5]
Pregar o Evangelho é honroso ao cristão, e a defesa da fé está dentro do próprio contexto da pregação do Evangelho, do contrário, o apóstolo Paulo não teria feito as seguintes afirmações:
Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” Romanos 1.16
Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho.” Filipenses 1.17
Eis o motivo porque faço uso da apologética. Repare nas epístolas que compõem o Novo Testamento, elas são de caráter evangelístico, de instrução, admoestação e com grande viés apologético. Enfim, fazer uma apologética sadia é simplesmente anunciar as verdades do Evangelho para aqueles que não crêem.
Vamos tomar, por exemplo, a tarefa de um missionário que será mandando para um local cuja cultura é completamente diferente da sua. É sabido que a influência da cultura na religião é muito grande, e vice-versa. O chamado divino é essencial, e a preparação é mais que necessária, e na preparação, a apologética também é útil:
Desempenhar o trabalho de missões requer muito mais do que se deslocar de uma região para outra, ou de um país para outro. Precisamos conhecer a cultura do lugar em que vamos semear o evangelho. Junto à cultura, teremos a religiosidade nativa. Conhecer antecipadamente tais elementos nos trará condições para alcançá-los adequadamente”. [6]
Vida cristã como argumento apologético
Apesar dos fideístas levantarem uma série de argumentos contra a apologética, está claro que na Bíblia o Senhor nos manda batalhar pela fé (Judas 3), tendo compaixão daqueles que duvidam (Judas 22) e fazendo tal tarefa com mansidão e respeito (1Pedro 3.15-16). Segundo Norman Geisler:
Quem tentar responder a perguntas de incrédulos certamente será insultado e tentado a perder a paciência, mas nosso objetivo principal é que cheguem ao conhecimento da verdade de que Jesus morreu por nossos pecados; Com uma tarefa tão importante a realizar, não devemos deixar de obedecer a este mandamento[7]
Certa feita, um irmão em Cristo me disse que havia humilhado um membro de uma seita que batera no portão de sua casa. Ele humilhou aquela pessoa sem apresentar a verdade bíblica a ela. Definitivamente, não precisamos de atitudes assim, que além de ir contra o amor cristão, é algo selvagem, desrespeitoso e intolerante, e isso não é apologética cristã.
Uma apologética eficaz está totalmente ligada à prática do amor. Nós devemos ter o ensino correto, mas também devemos ter a prática correta. Apesar de discordar de grande parte daquilo que é ensinado no movimento da “Igreja Emergente”, empresto as palavras que Brian McLaren (expoente da Igreja Emergente) disse:
... muitas ortodoxias sempre, e em toda parte, têm suposto que ortodoxia (pensamento e opinião corretos acerca do evangelho) e ortopraxia (prática correta do evangelho) poderiam e deveriam estar separadas, para que alguém, no mínimo se orgulhe de tirar um “A” em ortodoxia, mesmo depois de ter tirado um “D” em ortopraxia, o que se trata apenas de uma classe eletiva de todo modo”. [8]
Entendemos que fomos comissionados pelo Senhor para evangelizar, e para tal precisamos agir espelhados no Senhor Jesus. Veja ainda o que Gregory Koukl complementa sobre fazer apologética:
Não é suficiente para os seguidores de Cristo ter apenas mente bem informada. Eles também necessitam de um método eficiente, combinando conhecimento com sabedoria e diplomacia. Necessitam das ferramentas de um embaixador, e não das armas de um guerreiro; de habilidades táticas, e não de força bruta”. [9]
Enfim, ortodoxia cristã sem a prática, sem a vivência do Evangelho se torna nada. Jesus nos deu dois grandes mandamentos: amar a Deus acima de tudo e todos – e isso é o parâmetro que rege nosso relacionamento com Deus. Você o ama? – e o amor ao próximo – nosso relacionamento interpessoal nos mostrará como está nossa ortopraxia (Mateus 22.35-40). Não dá para fazer apologética sem no mínimo ansiar em amar ao Senhor verdadeiramente sobre tudo e amar o próximo como a si...
Levando em conta esta condição indispensável, concluo esta trilogia citando a palavras de William Lane Craig, um dos grandes apologistas de nosso tempo: “Na maioria das vezes, o que leva um incrédulo a Cristo não é o que você diz, mas o que você é. Portanto, esta é apologética superior: a sua vida”. [10]
Toda honra e glória ao Senhor!
Notas
[1] Acredito plenamente que a heresiologia é um ramo da apologética cristã. A apologética consiste em diversos segmentos, e o estudo das falsas religiões e crenças é tão somente um destes segmentos.
[2] KOUKL, Gregory in BECKWITH, Francis J. & CRAIG, William Lane & MORELAND, J.P. Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos. São Paulo, SP: 2006. p.55
[3] RICHARDSON, Alan. Apologética cristã. JUERP. Rio de Janeiro, RJ: 1978. p.17
[4] VAN BAALEN, Jan Karel. O caos das seitas. Imprensa Batista Regular. São Paulo, SP: 1984.
[5] BECKWITH, Francis J. & CRAIG, William Lane & MORELAND, J.P. Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos. São Paulo, SP: 2006. p.10
[6] Bíblia apologética de estudo, 2ªed. Instituto Cristão de Pesquisas. São Paulo, SP: 2005. p.1351
[7] GEISLER, Norman L. Enciclopédia de apologética. Editora Vida. São Paulo, SP: 2002. p.57
[8] McLaren, Brian. Uma ortodoxia generosa. Palavra. Brasília, DF: 2007. p.37
[9] KOUKL, Gregory in Ensaios apologéticos. p.64-65
[10] CRAIG, William Lane. A veracidade da fé cristã. Vida Nova. São Paulo, SP: 2004. p. 305

João Rodrigo Weronka - NAPEC

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