Uma definição pomposa para o compatibilismo é a expressão "concursus" divino, presente em muitos livros de T. S. e que tratam da providência divina. O que o termo quer dizer? Simplificando, seria a forma ou maneira com que Deus colabora e concorre para que as coisas no mundo andem conforme a Sua vontade estabelecida no decreto eterno.
Há porém um componente desastroso nessa definição, a de que, ainda que as criaturas de Deus obedeçam-nO infalivelmente, permanecem livres para realizar a Sua vontade infalível. Isso é o velho e antibíblico compatibilismo que dá ao homem, inexplicavelmente, a liberdade de agir segundo a vontade de Deus. Mas vemos aqui outro sério problema. Tendo-se em vista a natureza humana (ainda que regenerada) direcionando-se à rebeldia, como o homem pode livremente cumprir a vontade divina? Não é interessante que essa liberdade é utilizada apenas para cumprir o decreto divino? Se é liberdade, não se deve pressupor que o homem poderá utilizá-la para não cumprir a vontade de Deus? Ou seja, onde está realmente essa liberdade decantada se o homem é livre apenas para cumprir aquilo que Deus predestinou na eternidade? A conclusão é somente uma: o homem não é livre em nenhum aspecto e de nenhuma forma de Deus.
Sinceramente, tenho toda a dificuldade do mundo para entender o compatibilismo ou o "concursus" divino, principalmente porque não vi até agora uma explicação plausível e lúcida sobre a questão.
Os autores geralmente entram em uma densa neblina onde não se vê um palmo à frente do nariz, e dizem apreciar a vista, como se vissem o que não pode ser visto.
Depois de toda a explicação acerca da soberania de Deus, de Deus determinar, da vontade soberana de Deus não poder ser frustrada, de que tudo aquilo que Ele decretou na eternidade ocorrerá, para justificar a responsabilidade humana, os teólogos aparecem com a tal da liberdade do homem, a qual nem mesmo eles sabem o que seja. É como a vaca que deu 60 litros de leite e depois coiceou o balde. Tudo o que disseram sobre a soberania de Deus caiu por terra quando se aventou a possibilidade do homem ser livre.
Alguns recuam um pouco mais do que outros, mas, no fim das contas, estão sempre andando para trás.
Há os que afirmam a liberdade completa do homem, o famigerado livre-arbítrio, visto não haver a menor possibilidade das escolhas serem livres, ainda mais que a neutralidade é um dos seus pressupostos, e não há como o homem escolher sem que haja uma mínima influência em suas decisões; o homem não se decide sem algum tipo de coerção (física, moral, espiritual). Acreditar no livre-arbítrio é o maior e pior de todos os delírios. Qualquer pessoa que tenha algum entendimento saberá que nada acontece com isenção neste mundo, pois nossas decisões são influenciadas e influenciáveis, desde a escolha da compra de um sabonete até o infringir a Lei Moral e se rebelar contra Deus.
Os compatibilistas são os que andam um pouco mais lentamente para trás. Ainda assim crêem numa espécie de livre-arbítrio que, contudo, é controlado por Deus (como calvinistas não aceitam o termo livre-arbítrio, em decorrência das implicações ilógicas e irracionais que acarreta, substituem-no por livre-agência, liberdade compartilhada, etc).
Para mim, é quase a mesma coisa, variando apenas no grau de liberdade que se queira dar. Porém, o fato de diminui-la não a corrobora, mantendo-a no campo da ilusão, do delírio, da utopia, da intangibilidade, uma falácia em letras garrafais.
Fica uma pergunta: como o homem pode ser livre (e aqui não importa o grau ou o nível de liberdade) se a vontade de Deus acontecerá sempre, da forma como Ele planejou? Como posso ser um livre-agente? E quais os critérios reais para se definir a palavra liberdade?
Vejam a confusão que um eminente teólogo procedeu: "Não há ato humano que seja feito contra a vontade humana e nunca a liberdade humana é tirada. Todavia, os atos do ser humano não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina, a causa primeira"[1].
Primeiro: o que é vontade humana? E liberdade humana? Podem estas expressões se harmonizar com "não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina"?
Segundo: há uma incoerência gritante no que se está a afirmar. Se são livres, são independentes; e não estão conectados a uma vontade maior, a causa primeira. Se a vontade divina é a causa primeira, a vontade humana é secundária, dependente da primeira, logo, não é independente e nunca se processará derivada da liberdade humana, que no caso estará sujeita à vontade primeira. O que o autor faz é um mero jogo de palavras, que não dizem absolutamente nada do ponto de vista factual.
Os autores geralmente entram em uma densa neblina onde não se vê um palmo à frente do nariz, e dizem apreciar a vista, como se vissem o que não pode ser visto.
Depois de toda a explicação acerca da soberania de Deus, de Deus determinar, da vontade soberana de Deus não poder ser frustrada, de que tudo aquilo que Ele decretou na eternidade ocorrerá, para justificar a responsabilidade humana, os teólogos aparecem com a tal da liberdade do homem, a qual nem mesmo eles sabem o que seja. É como a vaca que deu 60 litros de leite e depois coiceou o balde. Tudo o que disseram sobre a soberania de Deus caiu por terra quando se aventou a possibilidade do homem ser livre.
Alguns recuam um pouco mais do que outros, mas, no fim das contas, estão sempre andando para trás.
Há os que afirmam a liberdade completa do homem, o famigerado livre-arbítrio, visto não haver a menor possibilidade das escolhas serem livres, ainda mais que a neutralidade é um dos seus pressupostos, e não há como o homem escolher sem que haja uma mínima influência em suas decisões; o homem não se decide sem algum tipo de coerção (física, moral, espiritual). Acreditar no livre-arbítrio é o maior e pior de todos os delírios. Qualquer pessoa que tenha algum entendimento saberá que nada acontece com isenção neste mundo, pois nossas decisões são influenciadas e influenciáveis, desde a escolha da compra de um sabonete até o infringir a Lei Moral e se rebelar contra Deus.
Os compatibilistas são os que andam um pouco mais lentamente para trás. Ainda assim crêem numa espécie de livre-arbítrio que, contudo, é controlado por Deus (como calvinistas não aceitam o termo livre-arbítrio, em decorrência das implicações ilógicas e irracionais que acarreta, substituem-no por livre-agência, liberdade compartilhada, etc).
Para mim, é quase a mesma coisa, variando apenas no grau de liberdade que se queira dar. Porém, o fato de diminui-la não a corrobora, mantendo-a no campo da ilusão, do delírio, da utopia, da intangibilidade, uma falácia em letras garrafais.
Fica uma pergunta: como o homem pode ser livre (e aqui não importa o grau ou o nível de liberdade) se a vontade de Deus acontecerá sempre, da forma como Ele planejou? Como posso ser um livre-agente? E quais os critérios reais para se definir a palavra liberdade?
Vejam a confusão que um eminente teólogo procedeu: "Não há ato humano que seja feito contra a vontade humana e nunca a liberdade humana é tirada. Todavia, os atos do ser humano não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina, a causa primeira"[1].
Primeiro: o que é vontade humana? E liberdade humana? Podem estas expressões se harmonizar com "não são independentes, mas sempre conectados a uma vontade maior que é a divina"?
Segundo: há uma incoerência gritante no que se está a afirmar. Se são livres, são independentes; e não estão conectados a uma vontade maior, a causa primeira. Se a vontade divina é a causa primeira, a vontade humana é secundária, dependente da primeira, logo, não é independente e nunca se processará derivada da liberdade humana, que no caso estará sujeita à vontade primeira. O que o autor faz é um mero jogo de palavras, que não dizem absolutamente nada do ponto de vista factual.
Terceiro: para isso, o homem teria de ser livre de Deus. E, portanto, Deus não poderia ser o Deus bíblico que é. Poderia ser qualquer outra coisa, menos o Deus da Escritura. E se Deus não é o Deus bíblico, a Escritura falha em revelá-lO. E seremos responsabilizados diante dEle por afirmar tamanho disparate, insano e reprovável, ainda que seja uma acertiva subliminar, irreconhecida formalmente pelo indivíduo, mas latente em seu subconsciente. Permanece a pergunta: como o homem pode ser livre e ainda assim a soberania de Deus manter-se intacta? Ou se Deus é completamente soberano como o homem pode alegar ser livre? Novamente, reafirmo: é impossível que o homem seja livre de Deus, se Deus é soberano.
A confusão inicia-se quando há a tentativa de se explicar a relação entre soberania divina e responsabilidade humana. Alheio ao texto bíblico, busca-se desenvolver a idéia de liberdade controlada do homem, algo tão sem pé e sem cabeça que leva teólogos a verdadeiros malabarismos retóricos, porém, contraditórios, e que comprometem o verdadeiro objetivo da Escritura, ao misturar partes dela com a filosofia humanista, de forte apelo mesmo entre homens tementes e reverentes a Deus. E o cúmulo dessa inconsequência é a proposição de que o princípio bíblico da responsabilidade está ligado à liberdade. Mas onde mesmo está isso?
Como não há respaldo bíblico, apelam para a Confissão de Fé de Westminster, em sua seção III, 1-2; e aumentam ainda mais a confusão com termos como causa primária, última e secundária (os quais não conseguem definir satisfatoriamente, nem mesmo a área de atuação entre si). Para depois de tanta intrusão e verborrágia afirmar-se: "Contudo, é preciso lembrar que o modo como essa relação entre a causa primária e as causas secundárias se processa é ainda um MISTÉRIO para nós. Nós a chamamos concursus, mas não sabemos com muita propriedade o modus operandi de Deus" (Grifo meu) [2].
Ou seja, no final, a resposta mais objetiva que se consegue é a de que a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana não passa de um mistério, algo obscuro, intricado, insondável, inexpugnável. Porém, até aqui, páginas e mais páginas foram escritas para explicar o inexplicável, e o leitor mais atento estará se perguntando: de que adianta este livro?
Como não há respaldo bíblico, apelam para a Confissão de Fé de Westminster, em sua seção III, 1-2; e aumentam ainda mais a confusão com termos como causa primária, última e secundária (os quais não conseguem definir satisfatoriamente, nem mesmo a área de atuação entre si). Para depois de tanta intrusão e verborrágia afirmar-se: "Contudo, é preciso lembrar que o modo como essa relação entre a causa primária e as causas secundárias se processa é ainda um MISTÉRIO para nós. Nós a chamamos concursus, mas não sabemos com muita propriedade o modus operandi de Deus" (Grifo meu) [2].
Ou seja, no final, a resposta mais objetiva que se consegue é a de que a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana não passa de um mistério, algo obscuro, intricado, insondável, inexpugnável. Porém, até aqui, páginas e mais páginas foram escritas para explicar o inexplicável, e o leitor mais atento estará se perguntando: de que adianta este livro?
E caberia ao autor perguntar: De que vale o que escrevi?
Já afirmei em outros textos sobre a relação da soberania de Deus e a responsabilidade humana que ela está centrada e estabelecida na autoridade divina, ou seja, no poder e direito que somente Deus tem sobre a Sua criação. O arbítrio aqui é dEle apenas. Às criaturas cabem obedecê-lo, quer queiram ou não. Portanto, o fato do homem ser responsável pelos seus atos está firmado não na suposta liberdade que o homem tem de escolha, mas no direito que Deus tem de julgar o homem e fazê-lo responsável por Sua autoridade de Criador, Legislador, Governante e Juiz de todo o universo. É simples. O princípio é de que Deus pode fazer o que quiser, e ao estabelecer que o homem será responsável mesmo sem ser livre, a Sua justiça, santidade e perfeição continuam intocáveis. Pois como Paulo disse: "Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma... Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?"(Rm 9.14, 20).
Não há na Bíblia nenhuma afirmação de que o fato de Deus ser o criador do mal ou do pecado o transforma em pecador ou maquiavélico. Como Criador é-lhe permitido fazer tudo o que bem queira e entenda segundo a Sua vontade, e a Escritura é clara em afirmar que tudo o que Deus faz é bom (mesmo o mal e o pecado). Infelizmente as pessoas querem ter uma espécie de jurisdição sobre Deus, como se Ele estivesse "preso" à vontade humana ou às leis do homem. Apenas a contaminação com o humanismo pode gerar esse tipo de suspeita ou a necessidade de se defender Deus daquilo que criou para a Sua glória, e da qual devemos tão somente aceitar e nos subjugar.
Como a falsa premissa da liberdade humana contamina a interpretação da Bíblia, a maioria das pessoas finge não ler os versículos onde Deus se coloca como aquele que criou tanto o bem como o mal; e se para Deus não há problema algum em declarar isso, por que tem de haver para nós? Deus precisa de defesa? Se precisa, de quem? Há algo acima ou mesmo no seu nível? Quem pode acuar, coagir ou impedi-lO de realizar a Sua vontade? Este é o princípio máximo da Escritura, e da qual os homens lutam insanamente para derrubar: Deus não nos deve nenhuma satisfação, e tudo o que faz é perfeito e santo. Em nossa imperfeição e humanidade, resta apenas submeter-nos à verdade bíblica inexorável, sem nos fatigar e nos entregar a uma luta impossível e estúpida.
Então vêem um sem número de pessoas querer protegê-lO, ignorando a Escritura, misturando-a com conceitos antropocêntricos, desandando a falar asneiras, ainda que com ar de sofisticação e intelectualidade, causando uma confusão dos "diabos": "Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?" (1Co 1.19-20).
Concluirei com uma sinopse, para o caso de não ter sido suficientemente explícito:
1) Deus é o Criador, Senhor, Legislador e Juiz de todo o universo. "Porque nele (Cristo) foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele" (Cl 1.16-17).
2) Deus é soberano. "Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras" (At.15.18).
3) Deus determina e estabelece tudo o que ocorrerá. Nem mesmo uma folha cai da árvore sem que Deus queira. "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mt 10.29-30).
4) Nada acontece sem que Deus mova suas criaturas para concretizá-la. "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13).
5) O homem não é livre de Deus (se fosse livre, seria uma força antagônica a Ele e autocriada).
6) O homem é responsável por seus atos (por definição escriturística). "A alma que pecar, essa morrerá... na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá" (Ez 18.20, 24).
7) A responsabilidade nada tem a ver com liberdade, mas com a autoridade divina, o direito que tem como Criador de sujeitar a criação conforme a Sua vontade.
8) Deus não precisa de defesa. "Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?" (Is 45.9).
9) Ele mesmo se revela na Escritura como o criador ("fazedor", idealizador) tanto do bem como do mal; e nenhum pecado pode ser-lhe imputado porque Deus não peca por definição, e o pecado é algo que está "abaixo" de Deus, em um nível inferior a Ele. "Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Is 45.7).
10) O pecado e o mal estão no nível das criaturas de Deus, como coisas criadas; portanto, não podem sujeitá-lO, antes o Senhor é quem as sujeitou conforme a Sua bendita vontade.
Estas são definições entre o bem e o mal, entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem, do ponto de vista bíblico. Qualquer outra coisa que se queira advogar como, por exemplo, o compatibilismo, estará no campo do estritamente humano. Portanto, falível e extrabíblico.
Nota:
[1] - "A Providência e a sua realização histórica" - Dr. Heber Carlos Campos - Ed. Cultura Cristã - pg. 267 [excetuando-se a questão da compatibilidade, o restante do livro é essencial para o entendimento da doutrina da providência]. Leia os meus comentários aqui.
[2] - Idem - pg. 270
[2] - Idem - pg. 270
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