A História da língua portuguesa

O despertar da Língua Portuguesa

Já na época romana existiam duas provincias diferentes nos territórios em que se formou a língua portuguesa, a antiga província romana da Lusitânia e a província da Galécia, a norte. A língua portuguesa desenvolvel-se principalmente no norte de Portugal e na Galiza, nos condados lucense, asturicense e bracarense da província romana da Galécia coincidentes com o território político do Reino Suevo, e só posteriormente, com a Reconquista foi avançando pelo que atualmente é o centro-sul de Portugal. Porém, a configuração atual da língua foi largamente influenciada por dialectos moçárabes falados no sul, na Lusitânia. Durante muito tempo, o dialecto latino dessa província romana e depois do Reino Suevo desenvolveu-se apenas como uma língua falada, ficando o latim reservado para a língua escrita.

Os Registos mais antigos da Língua Portuguesa



Os registos mais antigos da língua portuguesa aparecem em documentos notariais do século IX escritos em ‘latino-romance’, língua escrita de base tardo-latina com muitas interferências do vernáculo.
O mais antigo documento latino-português conhecido, datado do ano de 870 DC, é a Doação à Igreja de Souselo; trata-se, no entanto, de uma cópia do século XI (escrita em letra visigótica de transição). O mais antigo documento latino-português original conhecido é a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de Lardosa, datada de 882 DC (escrita em letra visigótica cursiva).
A Notícia de Fiadores, de 1175, é, segundo alguns estudiosos, o documento datado em escrita portuguesa mais antigo conhecido. É uma pequena lista de nomes que termina com uma única frase que apresenta sintaxe e morfologia portuguesas. A caracterização da Notícia de Fiadores como o “mais antigo” não foi consensualmente aceite na comunidade de filólogos portugueses.
Segundo outros estudiosos, o Pacto de Gomes e Ramiro Pais deve ser considerado o texto mais antigo escrito em português; no entanto, é apenas datável por conjectura (provavelmente anterior a 1173) e contém muitas formas gráficas latinas.
Outro importante documento, a Notícia de Torto, não datado, terá sido escrito entre 1211 e 1216: é uma longa narrativa dos agravos que o nobre Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de outros senhores. Permanece o mais antigo documento particular datável conhecido escrito em português.
O Testamento de Dom Afonso II, datado de 1214, é o texto em escrita portuguesa mais antigo que se conhece (e é consensualmente aceite como tal pela comunidade científica): conservam-se dois testemunhos do documento, um em Lisboa, outro em Toledo. Foi o primeiro de três testamentos que o monarca lavrou, mas apenas este foi redigido na ‘scripta’ portuguesa que na época se estava a desenvolver na corte.
Estes documentos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa.
O vernáculo escrito passou gradualmente para uso geral a partir do final do século XIII. Portugal tornou-se um país independente em 1143, com o Rei Dom Afonso I. A separação política entre Portugal e Galiza e Castela (mais tarde, Espanha) permitiu a evolução em direcções opostas do latim vernáculo presente nos 2 países. Em 1290, o Rei Dom Dinis (ou Denis) criava a primeira universidade portuguesa em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou que o português, que então era chamado "linguagem" fosse usado em vez do latim em contexto administrativo. Em 1296, o português foi adoptado pela Chancelaria Real. A partir deste momento o português passou a ser usado não só na poesia, mas também na redação das leis e nos notários.
Até 1350, a língua galego-portuguesa permaneceu apenas como língua nativa da Galiza e Portugal; mas em meados do século XIV, o português tornou-se uma língua elaborada, dotada de uma tradição literária riquíssima, e também foi adoptado por muitos poetas Leoneses, Castelhanos, Aragoneses e Catalães. Durante essa época, a língua na Galiza começou a ser influenciada pelo castelhano (basicamente o espanhol moderno), tendo-se também iniciado a introdução do espanhol como única forma de língua culta. Em Portugal, a fixação da corte em Lisboa, o surgimento da imprensa e a profunda textualização das classes dominantes (aristocracia, clero e burguesia) levaram ao desenvolvimento e elaboração de uma língua padrão a partir dos séculos XV-XVI de características centro-meridionais e à “exportação” de variedades linguísticas despojadas de marcas setentrionais para os novos territórios descobertos e colonizados pelos portugueses.

Os descobrimentos portugueses


Sagres, no antigo "Promontorium Sacrum" romano - dedicado ao deus Saturno. Símbolo dos descobrimentos portugueses, no século XV era o centro mundial e líder em ciência e tecnologia. (cortesia IPPAR)
Entre os séculos XIV e XVI, com os descobrimentos portugueses, a língua portuguesa espalhou-se por muitas regiões das Ásia, África e América. Pelo século XVI tornou-se uma "Língua Franca" nas Ásia e África, usada não só pela administração colonial e comércio, mas também para comunicação entre os oficiais locais e os europeus de todas as nacionalidades. Vários reis do Ceilão (actual Sri Lanka) falavam português fluentemente, e os nobres normalmente tinham nomes portugueses. O alastramento da língua foi ajudado por casamentos mistos entre portugueses e as gentes locais (algo muito comum também noutras zonas do mundo), e a sua associação com os esforços missionários católicos levaram a que a língua fosse chamada de "Cristã" em muitos locais. A língua continuou popular mesmo com várias medidas contra ela levadas a cabo pelos holandeses no Ceilão e na Indonésia.
Algumas comunidades cristãs que falavam português, nas Índia, Sri Lanka, Malásia e Indonésia preservaram a sua língua mesmo depois de se isolarem de Portugal, e desenvolveram-se pelos séculos em vários crioulos de base portuguesa. Muitas palavras portuguesas também entraram no léxico de muitas outras línguas, tais como "sepatu" que vem de "sapato" em Indonésio, "keju" que significa "queijo" em Malaio, "meza" (de "mesa") em Swahili além de várias palavras japonesas de origem portuguesa.

A renascença

Com a Renascença, aumenta o número de palavras eruditas com origem no latim clássico e no grego arcaico, o que aumenta a complexidade do português. O fim do "português arcaico" é marcado com a publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516. Mas formas similares ao português arcaico são ainda faladas por muitas populações em São Tomé e Príncipe, no Brasil e Portugal rural.

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