Creio que muitos cristãos concordam comigo que a igreja evangélica brasileira passa por um tempo difícil, um tempo de crise, seja ela de identidade ou mesmo teológica. Não quero e nem vou me aprofundar neste estudo sobre o que são os devaneios de “nossa” liderança gospel, que tem gerado inúmeras feridas no corpo. Esta crise é fruto do descaso que muitos líderes e crentes tem dado ao que chamo de Tripé Básico do Cristianismo, que consiste em:
1) Crer – a fé em Deus, nossa crença no único Deus;
2) Ensinar – ensinar acerca de Deus; levar o conhecimento da Palavra de Deus e do Deus da Palavra;
3) Defender – fazer a séria apologética cristã, defendendo os princípios elementares desta fé.
Creio piamente que devemos nos atentar a este tripé. Creio que ele pode produzir maturidade na vida das pessoas. Não se trata de uma fórmula mágica importada de Bogotá, Toronto ou Pensacola. Não se trata de a mais nova revelação neopentecostal. É apenas a aplicação simples de princípios que a Bíblia Sagrada – e de modo especial o Novo Testamento – nos mostram. Nós do NAPEC – Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão, somos um ministério paraeclesiástico que busca alertar a igreja sobre a importância do ensino bíblico genuíno e sobre a defesa da fé cristã. Não nos conformamos em ver o Evangelho sendo diluído em falsos ensinos e correntes nefastas. Por isso lançamos este alerta.
Crer
Quão fantástico e glorioso é quando uma pessoa abandona uma vida de escravidão ao pecado, uma vida distante de Deus e se encontra, de modo verdadeiro com Jesus Cristo, entregando sua vida a Ele e tendo-O como seu único Senhor e Salvador! Pude presenciar inúmeros encontros assim e ver, à medida que o tempo passou, a transformação que a genuína conversão produz. Esta profunda mudança é o “nascer de novo” (Jo 3.3). Jesus ilustrou a magnitude do momento do arrependimento através da Parábola da Dracma Perdida. No arremate desta parábola, Ele diz que “há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10). Há júbilo, há festa, há imensa alegria nos céus quando uma pessoa passa a crer em Deus.
“A Fé É Um Dom Divino Sobrenatural. O pecado e Satanás cegaram de tal maneira os homens caídos (Ef 4.18; 2Co 4.4) que estes não podem perceber que o testemunho que o Senhor Jesus e os apóstolos deram é a Palavra de Deus, nem podem ‘ver’ e compreender as realidades das quais ela fala (Jo 3.3; 1Co 2.14), nem ‘chegar’ até Cristo numa confiança de auto-renúncia (Jo 6.44,65), se o Espírito Santo não os iluminar (cf. 2Co 4.6).” [1]
Somente aqueles que foram iluminados pelo Espírito Santo e nasceram de novo podem receber este ‘ensino’, ‘atração’ e ‘unção’ divinos e chegar até Cristo e nEle confiar (Jo 6.44-45; 1Jo 2.20,27). Deus, portanto, é o autor de toda fé salvífica (Ef 2.8; Fp 1.29).
A parte triste é que muitos não querem fazer a sua parte. Poucos são aqueles que estão verdadeiramente dispostos a experimentar a maravilha de entender aquilo que crêem. Tais crentes se tornam ovelhas desnutridas, sujeitas aos ventos de doutrina (Ef 4.14). Relacionar os motivos de tamanho desleixo não é tarefa difícil. Posso citar ao menos três deles:
1. Lideranças despreocupadas: quando não existe, da parte do pastor o devido zelo pela sã doutrina, o rebanho será desnutrido, fraco e imaturo;
2. Experiências Pessoais: pessoas que levam suas experiências pessoais e “revelações” acima das Escrituras, criando verdadeiras anomalias espirituais e por muitas vezes doutrinas heréticas embasadas em tais experiências e sem o mínimo respaldo bíblico;
3. Preguiça: Crentes preguiçosos que preferem passar a vida comendo mingau não desejando alimento sólido. Muitos destes acabam se decepcionando por não se aprofundar em Deus e ao se decepcionar lançam a responsabilidade sobre terceiros.
Nenhum de nós chegou ao conhecimento de Deus e à salvação em Cristo através de mérito próprio. Nossa natureza é caída, rebelde e carnal. Nossos impulsos nos levam para longe de Deus. A salvação é um presente de Deus para nós – feito que provém de Deus unicamente (Ef 2.8). O “crer” leva o homem a ter que se posicionar de modo formal diante de Deus, respondendo o chamado que o Senhor faz. Trabalhei certa vez sobre este tema com uma turma de Escola Bíblica, demonstrando a salvação chegando ao carcereiro de Filipos (At 16.27-34). Esta passagem resume de modo maravilhoso a obra de redenção que leva o ser humano ao caminho da profunda fé salvífica (crer) no Senhor Jesus. Tal carcereiro clamou por salvação (At 16.30); ouviu a palavra e ensino de Paulo e Silas (At 16.31-32); agiu mostrando a mudança imediata que Deus operou ali (At 16.33); alegrou-se com sua família e com a comunhão com seus irmãos em Cristo (At. 16-34).
Enfim, crer é o estopim que produz profundas mudanças na vida daquele que foi redimido por Deus. Mas o crente não pode se contentar e se conformar em ficar no raso, ele deve ter a ciência que é indispensável estabelecer bases sólidas acerca do ensino (sobre a fé) e a defesa (apologia da fé). E como a igreja tem negligenciado os mandamentos do Senhor relacionados a estas importantes pernas deste tripé!
Este texto é apenas a introdução ao tema. Na próxima semana trataremos do tema “Ensino”. Mas para que você possa ir refletindo desde já, lanço algumas perguntas:
1) Como anda sua fé? Você tem dado o espaço para que o Espírito Santo encha sua vida da plena convicção?
2) A igreja que você freqüenta – sua congregação – tem dado o devido apoio ao ensino? Existe uma escola bíblica (realmente bíblica)? Você a freqüenta?
Toda honra e glória ao Senhor!
Notas
[1] PACKER, James I. in ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol II. Edições Vida Nova. São Paulo, SP: 1990. p.154
João Rodrigo Weronka - NAPEC
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