Logo no início da segunda carta de Paulo aos Coríntios, já somos encantados com um rico louvor ao Soberano: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação” (1:3). Depois disso, a palavra “consolação” repete-se várias vezes, em um belíssimo discurso de Paulo sobre sofrimento e consolação. Convido-o a mergulhar comigo nessa palavra (consolação) e só emergir novamente quando tocarmos no fundo de seu significado.
Primeiro, vejamos a unidade de atributos da Trindade. Cristo é chamado em I João 2:1 de Advogado (paraklētos); no Evangelho de João (14:16), o Espírito Santo é chamado por Cristo de Consolador (paraklētos); e no texto de II Coríntios (1:3), Deus Pai é posto sobre toda a consolação (paraklesis). É belo perceber que a Trindade é perfeitamente una, não só neste atributo, mas em todos. Tanto o Pai, como o Filho, como o Espírito são nossos eternos consoladores. Não é por menos que Jesus diz, em João 14:16, que Ele enviaria o outro (allos) consolador. Allos nos dá a idéia de outro completamente igual ao primeiro, no grego.
Em segundo lugar, atentemos à riqueza de significados dessa palavra. Paraklētos é uma palavra grega de um significado tão profundo, que tem dado dor de cabeça em vários tradutores. Vejamos apenas o exemplo do texto de João 14:16: Na edição de 1611 da King James Bible, Paraklētos foi traduzido como Conforter (Consolador, Confortador); nas edições modernas dessa mesma tradução, Helper (Ajudador) é a tradução usada; na NVI em português, podemos ver esse texto empregando o adjetivo “Conselheiro”; na NTLH a tradução escolhida foi “auxiliador”; na Tradicional João Ferreira de Almeida (tanto na RC como na RA), vemos o adjetivo “Consolador” e na King James Atualizada na língua portuguesa, esse verbo foi traduzido como “Advogado”. A pergunta que fica no ar é: por que tantas traduções diferentes para a mesma palavra? A resposta mais coerente seria: porque todas elas são possíveis.
Formado pelas palavras gregas Para (ao lado de) e Klētos (chamado), pode ser traduzido de uma forma literal e bruta como “aquele que é chamado para andar lado a lado”. É exatamente isso que Deus é para nós. Ele vem andar do nosso lado, levando nossos fardos e dores.
Olhando de um modo mais cuidadoso, vemos que essa palavra era usada para designar os advogados da época. Pessoas que gratuitamente defendiam outros diante dos acusadores. Tais advogados, segundo o direito romano, deveriam ser totalmente íntegros e irrepreensíveis diante da lei. Não precisamos de muito esforço para perceber que não é à toa que Cristo é retratado como nosso advogado (Paraklētos).
Com o tempo, essa palavra deixou de significar apenas “advogado”, mas passou a significar várias qualidades: “conselheiro, ajudador, consolador, encorajador, etc”. Não existe palavra na língua portuguesa que acople todos esses significados juntos. Por isso, é importante lembrarmos da imensa riqueza dessa palavra e sempre transmitir esse tesouro quando pregarmos sobre ele.
Que essa curta exegese possa auxiliar todos que passarem por II Coríntios. Com certeza isso dará um maior entendimento no “ministério da consolação”. Faço das palavras de Paulo as minhas: “E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra.” (II Ts 2:16,17).
Senhor, obrigado por toda a Tua consolação. Agradecemos por levar nossos fardos e enxugar nossas lágrimas. Em profundo quebrantamento, louvo-Te. Amém.Yago Martins
Teologia e Vida
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